sexta-feira, 5 de junho de 2020



São Paulo ferve


É sete de setembro!
No Tatuapé ou no Boulevard,
Lojas abrem-se sonolentamente
Em instantes o ritmo frenético
Do ir e vir de transeuntes
Sob a garoa do meio-dia
Não, Ednardo, não adianta esperar!
Não adianta esperar, que aqui o povo não para.
Ironia, ou não, do destino, são eles,
São eles que hoje esperam a Água Grande despencar.
A multidão se afoga no volume morto do Cantareira.

É sete de setembro,
Mas São Paulo ferve!
É sete de setembro!
Na Barra Funda (ou teria sido no Tatuapé?),
Observado por uma bela jovem oriental,
Sansei, issei ou nissei,
Yo non sei!
Um pianista solitário se apresenta
Sem se importar com o desdém,
Diante do ir e vir frenético, da multidão,
São Paulo tem artista de rua.
São Paulo também é cultura.
Mas ferve em plena tarde de sete de setembro!

É sete de setembro!
Na Barra Funda ou no Tietê,
Indo ou vindo do feriado,
Há uma variedade imensa de rostos.
Senhoras de cabeças longilíneas
Misturam-se a algumas cabeças chatas nordestinas.
Jovens de faces claras e compridas
Misturam-se a outros de lábios carnudos e cabelos ruivos.
De minissaia, timidamente, uma menina,
Morena, na flor da adolescência, atrai olhares masculinos,
Ou seria um menino, em seu recato?
A Marta Rocha do Drummond (Não do Carlos, mas sim do Roberto),
Desta vez de olhos castanhos, que enfeitiça a pauliceia desvairada?
São Paulo é andrógino!
São Paulo se traveste de Brasil!
São Paulo é a síntese, ou a mimese, do Brasil?
Mas ferve em plena tarde de sete de setembro!
Glauco Bastos, São Paulo (em trânsito), 08 de setembro de 2015