Andei
revisitando Clarice, em A Hora da Estrela...Uma amiga relembrou o livro. Da
primeira vez, “Macabea quase me matou”,
palavras do narrador. Na sua inexpressividade
, a moça era a própria antítese dos macabeus. Agora, a personagem é para mim, o
ícone ao contrário do quero para a juventude. Ela me faz refletir sobre o poder
que temos de incentivá-los, os jovens , para que tenham direito ao sonho e à construção de sua própria história, a partir do conhecimento
adquirido na escola ou pelo wi fi, não aquele emprestado pelo comerciante da vizinhança ou
captado em terreno alto no fundo do quintal. Quero que todos tenham a
oportunidade de se debruçar à maravilha do conhecimento , sem ter que
esperar a sonhada solidão do quarto tão disputado para realizá-lo. Que todos
tenham oportunidades de desenvolver
habilidades múltiplas , que a vida seja algo mais que um sim de Clarice,
falado por uma molécula para outra molécula, segundo o
seu narrador. Que expressões como “renda per capita”, “ efeméride”, “designar
“sejam funcionais no vocabulário. Que eles saibam
quem foi o autor de Alice do País das Maravilhas, que ele foi matemático , que
a terra tem mais de 7 bilhões de habitantes e que isso lhes traga uma sensação de amparo e, depois,
saberem em que aplicar o que aprenderam. Que conhecimentos infinitos como os que Macabea ouvia no rádio emprestado,
assim como o da teoria de que a mosca poderia voar o mundo em 28 dias , se o seu vôo fosse reto, possa lhes tirar do limbo, para que a vida seja mais do que “ expirar e um inspirar em um viver ralo”. Que
esses jovens possam viver com glória e
com vontade de ter futuro e que eles
tenham um rosto, um corpo e a inteligência de fazer neles a morada divina. Que ler não se torne
supérfluo, porque a fome será
menos iminente. Que não tenham medo de inventar, que saibam o
que é cultura, que samba é diferente de outro ritmo e que eles não são condes e
nem príncipes, mas que ter uma vida de esplendor não é privilégio de poucos,
como pensavam Olímpico e Macabea.
Professora Edneuda
Pinto, Agosto, 2020. Fortaleza-Ce.
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