Professora Edneuda Pinto, Agosto, 2020. Fortaleza-Ce.
Caravella Literária
Este Blog é destinado a todos que gostam de Literatura, Direito e Educação e tem como objetivo tornar-se um espaço para divulgação de nossa Arte, bem como contribuir no estudo da Língua Pátria e da História da Educação.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Uma paráfrase a Clarice Lispector
Um preâmbulo ao Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago.
Um livro para quem tem fé na sua própria fé e para quem não a tem também. Momentos de espanto, outros de deleite. Um livro que suscita arrepios na pele e na espinha dorsal,leva à reflexão de que “ o homem é lobo do próprio homem e este próprio se devora”. Ao que entendi, na leitura deste autor, já citando outro, esta parece ser uma premissa da qual ninguém está imune, ora sendo algoz, ora sendo vítima das vontades de outros ou do destino. E o destino? Este permanece intacto, imóvel seguindo as leis da natureza, sem ao menos se importar com as nossas verdades e motivos.A expiação se sobrepõe e nessa linha, alguém sempre vai sofrer se não por vontade, sim por atitudes de alguém, até pelas de nossos pais,quando cometem seus atos só para nos proteger.
Mas este livro, não o quero só para mim, e apesar de falar um pouco sobre esta obra de arte, o farei sem espoiler, a não ser que você aí que me lê agora, peça que eu lhe conte toda a história que foi verdade ou a verdade que foi história. E eu, assim o farei, porque, por mais que você conheça por outras mãos ou outras bocas, nunca vai sentir a emoção de degustar as palavras originais do Evangelho Segundo Jesus Cristo que o tocarão em todos os seus sentidos de leitor.
Conhecendo os modos e costumes da sociedade judaica , fazendo um contra- ponto com as atitudes da sociedade contemporânea, este evangelho é um dos melhores presentes que qualquer humano pode se dar. Entre antíteses, paradoxos, rebusacamentos, ditos populares, dados históricos e teológicos, Saramago nos apresenta uma história cheia de verdades e igualmente cheia de dúvidas. Em um trabalho notoriamente árduo, no trato com as palavras. Este livro fez de mim uma assaz caçadora de sentidos em um quebra- cabeças de vira- e- mexe, um faz- e -desfaz de sentidos nos trocadilhos, que vai de cima para baixo de baixo para cima, em um incessante prescrutar de expressões e ironias, às vezes sutis, às vezes tsunâmicas.
Agora com a leitura deste livro, apesar de já conhecer parte de sua obra, compreendo por que Saramago não segue a pontuação e regras nos parágrafos. O seu fluxo intenso não dá espaço para preocupações com regras de grafia, decisão permitida apenas aos consagrados em nome da permanência daquilo que é essencial em um momento em que tudo fora verdade para o escritor.
Assim compreendo a literatura de Saramago até aqui, conhecida por esta aspirante a leitora de toda a obra deste autor. Revisito agora, esta extrema grandeza e o faço para uma compreensão mais completa este livro a ser lido com calma, tempo e que começa com a descrição insólita de uma pintura da cena da crucificação de Jesus Cristo. Já de início, se define a quais rumos o enredo vai nos levar, começando com a história do nascimento de um bebê muito humano que chorou porque cortaram o seu prepúcio com uma faca de pedra, ficou dentro de um comedouro de animais de viajantes, o qual lhe serviu de berço, e que terminou sendo pregado vivo na cruz, chegando ao máximo do limiar de todas as dores.
Professora Edneuda Pinto, Agosto, 2020. Fortaleza-Ce.
quarta-feira, 29 de julho de 2020
UMA FLOR NO ASFALTO
À Dilma Rousseff
Nascera no
asfalto uma flor!
Sim! Uma flor nascera no asfalto!
Eram tempos sombrios:
Tempos de luto!
Tempos de luta!
O fio de esperança:
A flor no asfalto.
Sua tímida
pujança
Pasmou a todos
Alegrou a muitos
Assustou a uns poucos.
Tentaram
regá-la,
Adubá-la, protegê-la.
Mas o petrolífero asfalto,
Em fogo amigo,
Desfolhou-a, despetalou-a.
Sua
explícita morbidez
Assustou a todos
Pasmou a muitos
Alegrou a uns poucos.
Quanta
besteira!
De que serve uma flor
Encoberta na fuligem
Petrólea do asfalto?
Tentarão
sufocá-la,
Asfixiá-la, matá-la.
Mas a revolucionária poesia,
Em fraterna inspiração,
Pela liberdade, pela igualdade,
Há de reanimá-la,
Reavivá-la,
Ressuscitá-la.
Seu
enigmático enflorescer
Alegrará a todos
Assustará a muitos
Pasmará a uns poucos.
Sua
teimosa resistência
Há então de mostrar
Ao engenho e à arte
Que uma resiliente flor
Que ousa nascer
Audaciosamente no asfalto
NUNCA MORRE!
JAMAIS MORRERÁ!
Guarulhos-SP, 22 de março de 2015
BANDIDO DE ESTIMAÇÃO
Não tenho bandido de estimação.
É claro!
Meus bandidos são selvagens.
Alguns domesticados;
Outros domesticáveis.
Mas, em sua essência,
Selvagens!
Não tenho bandido de estimação.
É claro!
Meus bandidos são selvagens.
Roubam e enganam em nome de Deus.
Torturam e matam em nome da Pátria.
Estupram, violentam, em nome da Família.
Dissimulam bem.
Mas, em sua essência,
Selvagens!
Não tenho bandido de estimação.
É claro!
Meus bandidos são selvagens.
Segregam e oprimem em nome da Tradição.
Discriminam e agridem em nome da Família.
Extorquem e sonegam em nome da Propriedade.
Tudo sob o manto sagrado da Justiça.
Mas, em sua essência,
Selvagens!
Não tenho bandido de estimação.
É claro!
Meus bandidos são selvagens.
Subjugam em nome da Tradição.
Acusam em nome da Pátria.
Exterminam em nome da Propriedade.
Tudo sob o manto sagrado da Justiça.
Mas, em sua essência,
Selvagens!
Não tenho bandido de estimação.
É claro!
Meus bandidos são selvagens.
Destilam intolerância em nome de Deus.
Fomentam preconceitos em nome da Família.
Matam no campo, na cidade e na floresta,
Em nome da Propriedade.
Tudo sob o manto sagrado da Justiça.
Mas, em sua essência,
Selvagens!
Não tenho bandido de estimação.
Porque eu,
Patinho bonitinho,
Amarelinho
De bem
Sequer tenho bandidos.
Nisso piamente eu creio
Como creio em Papai Noel,
Super-heróis,
Messianismo
E meritocracia.
Não tenho bandido de estimação.
Porque eu,
Patinho bonitinho,
Amarelinho
De bem
Não penso!
Não contesto!
(Isso a mim não cabe)
Também não opino,
Nem afirmo.
#SóAcho!
Glauco Bastos
Morada Nova-CE, 11 de abril de 2018
Covid para um café
O branco açúcar
Com que adoço meu café
Nesta manhã no Montese
De frente para o computador
Me faz lembrar você, Gullar.
Me faz indagar se por trás desta tela
Quantos hão de estar
A olhar
A receber remotas aulas
Da normalidade pandêmica
Me faz pensar se há, em algum lar,
Adolescentes sonolentos ao celular,
Ansiosos por estudar
Mas sem uma borra sequer
De café para coar.
Glauco Bastos
Fortaleza, 29/07/2020